Dr. Fredson analisa, Remédios para emagrecer, há riscos?

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Qualquer medicação tem contraindicações e efeitos colaterais que variam de paciente para paciente, daí a necessidade do tratamento ser realizado com orientação médica, e não baseado na experiência de alguém que usou a medicação e deu certo. Tenho visto pessoas usando por conta própria uma medicação injetável para perda de peso e para tratar diabetes chamada Liraglutida (Saxendaa, Victozaa). A seguir explico sobre a Liraglutida e sobre o uso sem orientação médica de remédios para tratamento da obesidade.
A Liraglutida imita um hormônio produzido pelo nosso intestino chamado GLP-1, que atua em regiões cerebrais que regulam o apetite, causando redução da fome e maior saciedade, facilitando aderir a dieta para perder peso. Esse hormônio serve também para tratar diabetes, pois diminui a glicose no sangue quando ela está elevada. Durante a fase de pesquisas com a Liraglutida para tratar o diabetes, foi observado que ela também reduzia o peso. Após estes estudos, a Liraglutida (em doses mais altas que aquelas aprovadas para o tratamento do diabetes) obteve aprovação para tratamento da obesidade independentemente de a pessoa ser diabética ou não. Entendam essa diferença: Apesar de o princípio ativo ser exatamente o mesmo, a Liraglutida possui dois nomes comerciais diferentes, sendo um com indicação em bula para tratar diabetes e o outro com indicação em bula para tratar obesidade. A apresentação comercial para obesidade vem em doses mais elevadas.
Em meados de 2019 começou a ser vendido no Brasil a Semaglutida (Ozempicc), que tem a mesma ação da Liraglutida, porém com a comodidade de poder ser aplicada semanalmente ao invés das injeções diárias como na Liraglutida. A Semaglutida também está sendo estudada para tratamento da obesidade, mas as pesquisas não foram finalizadas, ela ainda não possui indicação na bula para obesidade, mas somente para diabetes. O uso de um remédio para perder peso sem indicação oficializada na bula somente deve ser feito através de criteriosa avaliação de médico especialista. Se o médico julgar que os benefícios esperados superam os riscos, ele pode prescrever uma medicação sem liberação oficial para tratamento da obesidade. Esta é uma decisão médica que deve ser claramente discutida com o paciente, mostrando todos os riscos e benefícios. Justamente neste ponto está o problema, pois muitos pacientes estão usando o medicamento por conta própria para emagrecer, de forma indiscriminada, sem respeitar critérios clínicos e contraindicações do tratamento, aumentando as chances de efeitos indesejados. Tanto a Liraglutida quanto a Semaglutida possuem efeitos colaterais gastrointestinais, como náuseas, vômitos, piora de refluxo gastresofágico e podem ser contraindicadas em pessoas que possuem maior risco de desenvolver pancreatite e um tipo mais raro de câncer de tireoide.
A obesidade é uma doença complexa e seu tratamento não se resume ao uso de um medicamento. Como sempre explico aos meus pacientes: O remédio nunca será o agente principal de sua perda de peso, o tratamento medicamentoso bem feito será acompanhado de modificação do estilo de vida, com plano alimentar individualizado, atividade física regular e ferramentas comportamentais.